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2003-10-05

Groucho, Leiria e Barroso 

Um dito de Groucho Marx (cito de cor): Aqui onde me vêem, comecei do nada e cheguei a um estado de extrema miséria.
Uma história de humor negro de Mário-Henrique Leiria, nos seus Novos Contos do Gin Tónico (1973?), trata de uma curta carta, salpicada de pontos e manchas encarnadas (de sangue), mesmo assim na folha do livro, a comunicar aos pais, por parte da polícia política, que o filho tinha morrido na sua excelente clínica, mercê dos excelentes cuidados aí providenciados.
Por que é que estas histórias são para aqui chamadas: quando oiço as gabarolices do Governo, a falar das suas "excelentes" políticas, que levaram o país de uma situação perfeitamente razoável, há pouco mais de um ano e meio, de um ponto de vista económico e mesmo financeiro, para a situação perfeitamente calamitosa actual, é o que me ocorre.

Portas Travess(as)uras ou Kob(r)a o Terrível 

No Sábado, Freitas no Expresso equiparou Portas a Staline, porque ele e quase todos os outros líderes do CDS foram apagados da história do partido, no recente Congresso. Ele mesmo se pôs no papel de Trotsky, dizendo ironicamente que não iria ao México (Cancum) passar férias para não ter o mesmo destino deste revolucionário (mandado assassinar aí por Staline).
O cartoon de António no mesmo jornal também mostra Portas a discursar, contemplado por um quadro onde há cinco Portas, que diferem pela cor da gravata, à boa maneira dos cerimoniais comunistas, onde aparecia sempre um painel com os fundadores e continuadores principais do marxismo-leninismo: Marx, Engels, Lenine e, também Staline, se a cerimónia era na China ou na Coreia do Norte.

2003-10-03

Tique de Direita 

No Expresso do último sábado, um senhor economista (professor e deputado da actual maioria) investe arrogante e pedantemente contra as pessoas (que segundo ele têm proliferado em tudo o que é comunicação social), que não tendo lido o autor tal, analisado o relatório não sei quantos, estudado o professor x, ou não sendo economistas encartados, etc., não estão preparadas para discutir ou pôr em causa a governação económica e financeira do país. Uma tão "excelente" governação em que têm piorado todos os indicadores económicos, em comparação com o tempo do "malandro" do Guterres: por exemplo, o PIB cresceu em média 3.5% ao ano de 1996 a 2001, em 2002 só 0.4% e em 2003 vamos ficar com quase -(menos) 2%. Mesmo o défice de 2002 (que era suposto descer e tender para zero), se não fossem as vendas e a contabilidade criativa da ministra, ultrapassaria o do último ano de Guterres.
Por outro lado, este tique de querer reservar só para os "entendidos" a discussão deste tipo de questões, faz-me lembrar os quase 50 anos do regime fascista em que o povo era higienicamente mantido à margem da discussão política, ainda que de vez em quando houvesse umas fantochadas eleitorais.

2003-10-02

Deus e Ateus 

Não consigo recordar-me quem disse a frase que li há relativamente pouco tempo: "a única prova da existência de Deus é a necessidade das pessoas acreditarem Nele". Mas esta frase, apesar da sua beleza formal, tem um reverso: uma prova da não existência de Deus é o facto de haver ateus!

Benfica 

Li há dois dias numa crónica, de Pedro Mexia no Diário de Notí­cias, que era um mito pacóvio a história do Benfica ter 6 milhões de simpatizantes. Há pouco tempo também ouvi Fernando Seara na televisão a indicar este número. Àparte estes 6 milhões já virem de um tempo em que a população portuguesa era pouco mais de 8 milhões, as pessoas não se apercebem da enormidade demográfica, chamemos-lhe assim, que tal quantidade de benfiquistas representaria. Embora admitindo verdadeira a frase (bem pirosa, por sinal) que já vem do tempo "da outra senhora" (a que gostava muito dos três efes: fado, futebol e Fátima): "Quem não é benfiquista, não é bom chefe de família" e admitindo ainda que há em Portugal muitos bons chefes de família acho, sinceramente, que seiscentos mil simpatizantes (10% dos seis milhões) de um clube desportivo me parece já um número exagerado

2003-10-01

Koba o Terrível (3) 

Há uma crítica ao livro de Martin Amis por Christopher Hitchens na revista Atlantic Monthly (online). Hitchens é o amigo referido no Post anterior. Sobre essa parte reproduzo aqui a sua crítica:
However, Amis also refers to laughter of a somewhat different sort, and here, having called attention to the splendors of this little book, I am compelled to say where I think it fails. And by "compelled" I suppose I must mean "obliged," since it appears on the author's own warrant that the book's shortcomings are mostly my fault. In the fall of 1999 Amis attended a meeting in London where I spoke from the platform. The hall was one of those venues (Cooper Union, in New York, might be an analogy) where the rafters had once echoed with the rhetoric of the left. I made an allusion to past evenings with old comrades, and the audience responded with what Amis at first generously terms "affectionate laughter." But then he gives way to the self-righteousness and superficiality that let him down.
Why is it? Why is it? If Christopher had referred to his many evenings with many "an old blackshirt," the audience would have ... Well, with such an affiliation in his past, Christopher would not be Christopher—or anyone else of the slightest distinction whatsoever. Is that the difference between the little mustache and the big mustache, between Satan and Beelzebub? One elicits spontaneous fury, and the other elicits spontaneous laughter? And what kind of laughter is it? It is, of course, the laughter of universal fondness for that old, old idea about the perfect society. It is also the laughter of forgetting. It forgets the demonic energy unconsciously embedded in that hope. It forgets the Twenty Million.

This isn't right:
Everybody knows of Auschwitz and Belsen. Nobody knows of Vorkuta and Solovetski.

Everybody knows of Himmler and Eichmann. Nobody knows of Yezhov and Dzerdzhinsky.

Everybody knows of the six million of the Holocaust. Nobody knows of the six million of the Terror-Famine.
George Orwell once remarked that certain terrible things in Spain had really happened, and "they did not happen any the less because the Daily Telegraph has suddenly found out about them when it is five years too late." Martin Amis can be excused for coming across some of the above names and numbers rather late in life, but he cannot hope to get away with accusing others of keeping these facts and names from him, or from themselves. He tells me that this fairly unimportant evening was what kick-started his book, and in an open letter to me on the preceding pages he contemptuously, even proudly, asserts his refusal even to glance at Isaac Deutscher's biographical trilogy on Leon Trotsky. Well, I have my own, large differences with Deutscher. But nobody who read his Prophet Outcast, which was published more than three decades ago, could possibly be uninstructed about Vorkuta or Yezhov. In other words, having demanded to know "Why is it?" in such an insistent tone, he doesn't stay to answer his own question, instead replacing it with a vaguely peevish and "shocked, shocked" version of "How long has this been going on?" The answer there is, longer than he thinks.

With infinitely more distress I have to add that Amis's newly acquired zeal forbids him to see a joke even when (as Bertie Wooster puts it) it is handed to him on a skewer with béarnaise sauce. The laughter in that hall was slightly shabby, I am quite prepared to agree. But it was the resigned laughter that "sees" a poor jest, and recognizes the fellow sufferer.

2003-09-30

Koba o Terrível (2) 

Cheguei ao fim da leitura do livro. O autor adianta algumas hipóteses para explicar como um sistema tão aterrador pôde ter existido. A maldade era tão inacreditável, que era impossível acreditar. Staline vingou-se da sua origem georgiana, da família e de todos os camaradas ou velhos bolcheviques que alguma lhe tenham feito sombra ou pudessem vir a fazer. Matava-os a eles e às suas famílias. Estendeu o terror a toda a sociedade soviética. Todos podiam ser “inimigos do povo” ou “trotskistas”. A fome brutal foi imposta, implicando também milhões de mortos. Quando a Comissão do Censo lhe apresentou uma quebra da população, mandou-os prender e fuzilar. Quando Kirov, o dirigente de Petrogrado, foi morto, num crime organizado pela Tcheka, a polícia secreta, a seu mando, foram organizados funerais de estado, em que Staline apareceu à frente de uma comitiva vinda de Moscovo, tendo elogiado e beijado o morto. A causa próxima para este assassinato tinha sido uma votação no Comité Central em que Kirov tinha sido rejeitado por três votantes e Staline por mais de cem.
Vinte milhões de mortos à conta de Staline! (A frase cínica de Staline: uma morte é uma tragédia, um milhão é estatística). Vinte milhões de tragédias!
Como é que muitas pessoas foram e ainda são hoje “tolerantes” com este barbarismo?
M. Amis conta um episódio passado há pouco tempo com um seu amigo, ex-stalinista e agora social-democrata, aquando de uma conferência sobre a União Europeia, na sede do “New Statesman”, o qual começa por fazer alusão irónica a outras intervenções suas no passado, no mesmo local, de apoio a outras políticas (estalinistas implicitamente). Isto arranca risos (benevolentes) da assistência.
Amis, volta a falar do Bigodinho (Hitler)-Bigodaça (Staline), ao qual já tinha dedicado um capítulo. Conclusão: não devia haver benevolência para o Bigodaça, como não há para o Bigodinho!

2003-09-29

Vivaldi (La Stravaganza) 

Uma gravação maravilhosa desta obra, realizada pela editora Channel Classics, em SACD (Híbrido-Multicanal), vai receber o prémio da revista Gramophone para o melhor CD barroco de 2003, e com hipóteses de ser escolhido o melhor CD do ano em todas as categorias. Aliás na linha dos elogios de outras revistas de música.

"User-Agent: Microsoft Outlook Express Macintosh Edition - 5.01 (1630)
Date: Sun, 28 Sep 2003 22:08:24 +0100
Subject: Channel Classics news
From: clubchannel
To: Jared Sacks

Dear Friends of Channel Classics.

The good news is out that Channel is to receive the Gramophone award 2003
for the best Baroque recording of the year with Rachel Podger with her
Vivaldi ŒLa Stravaganza¹!


On the 12th of October the awards presentation will be taking placein
London. Of the 6 final awards, one will also be chosen as the best CD of
the year. I think we even have a good chance for this. We will keep you
posted.
We are of course honoured to be getting this distinction. Also because it
is the first SACD to receive Gramophone of the year. Rachel and I will be
at the awards. Since I am the man behind the microphones, I am hoping that
Rachel will do the talking and accept the award!
....."

Bob Dylan (Revisitado) 

Bob Dylan (Revisitado)
Segundo informou e comentou ontem (Domingo), na revista do DN, José Victor Henriques (Audiofilia Crónica), 15 discos de Bob Dylan, desde1963 até 2001, foram reeditados pela Sony Music em formato híbrido, isto é no mesmo disco, uma versão, melhor dizendo camada, para CD e outra para SACD (Super Audio CD). O que significa, mesmo que não se tenha leitor de SACD, que se podem ainda ouvir "remasterizações" muito cuidadas e de excelente qualidade sonora no leitor de CDs. Alguns dos discos (6) são em versão multicanal.

The Freewheelin' Bob Dylan (1963) - SACD híbrido estéreo
Another Side Of Bob Dylan (1964) - SACD híbrido multicanal
Bringing It All Back Home (1965) - SACD híbrido multicanal
Highway 61 Revisited (1965) - SACD híbrido estéreo
Blonde On Blonde (1966) - SACD híbrido duplo multicanal
John Wesley Harding (1967) - SACD híbrido estéreo
Nashville Skyline (1969) - SACD híbrido estéreo
Planet Waves (1974) - SACD híbrido estéreo
Blood On The Tracks (1975) - SACD híbrido multicanal
Desire (1976) - SACD híbrido estéreo
Slow train Coming (1979) - - SACD híbrido multicanal
Infidels (1983) - SACD hibrido estéreo
Oh Mercy (1989) - SACD híbrido estéreo
Street Legal (1998) - SACD híbrido estéreo
Love and Theft (2001) - SACD híbrido multicanal

2003-09-27

Marijuana 

Estudo Cientí­fico do Conselho Superio de Saúde Italiano, publicado La Repubblica (sábado 27 Set 03).
I risultati di uno studio affidato dal ministro Sirchia
al Consiglio Superiore della Sanità "Molti danni collaterali"
Gli esperti: "Giovani attenti
La marijuana fa male alla salute"

Assuefazione, passaggio a droghe pesanti, problemi psichici
Un documento che "sostiene" la linea dura del governo
.........
Il Consiglio superiore di sanità nell'elaborare il suo studio è partito da un dato: l'alto numero di adolescenti che in Italia fumano cannabis. E da questo dato è arrivato alla conclusione che "l'uso della cannabis è gravato da pesanti effetti collaterali quali dipendenza, possibile progressione all'uso di altre droghe quali cocaina e oppioidi, riduzione delle capacità cognitive, di memoria e psicomotorie, disturbi psichiatrici quali schizofrenia, depressione e ansietà ; possibili malattie broncopolmonari tra cui bronchite ed enfisema".

O jornal está a fazer uma sondagem e a pergunta e o resultado são os seguintes:

Il Consiglio Superiore di sanità ritiene che "la cannabis non debba considerarsi 'drog
a leggera' e che il suo consumo non rappresenta quindi un'abitudine priva di conseguenze sulla salute". Siete d'accordo?

1 Sì
2 No
3 Non so
Risultati:
1 21%

2 78%

3 2%


3331 voti alle 03:13
sondaggio aperto alle 17:34 del 26-09-2003

O Juiz e a fama (2) 

Henrique Monteiro escreve no Expresso (online) sobre o desembargador que insultou e empurrou os jornalistas da SIC e acha que afinal o juiz teve o seu momento de fama:

"Se alguém quisesse desprestigiar os juízes portugueses não faria melhor do que o presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, um senhor desembargador até agora obscuro, mas que teve o seu momento de fama quando, empurrando a câmara de filmar da SIC bradou para a jornalista Sofia Pinto Coelho: «Não há conversa, minha senhora antes que eu rebente com essa merda toda. Não quero ser filmado».
....
Se o doutor Silva Pereira, a quem a vida levou para o lugar de desembargador presidente da Relação de Lisboa tivesse a intenção de desprestigiar a Justiça, não teria feito melhor. "

Vinicius de Morais 

Toda a obra literária de Vinicius de Morais e outros tópicos referentes a este criador estão disponíveis online.

O gato 

Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga.



in Poesia completa e prosa: "Poemas infantis" de Vinicius de Morais


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